![]() |
(Imagem: Viktor Hanacek no site picjumbo) |
Tendo suas raízes no século XIX, a profissão do engenheiro químico contribuiu para o advento de muitas tecnologias fundamentais para a sociedade contemporânea. A seguir, apresentamos para você algumas das principais conquistas da Engenharia Química no século XX, e questões muito atuais sobre essas tecnologias:
1 - Fertilizantes
Um dos grandes atingimentos do século passado, os fertilizantes foram uma conquista da engenharia química que possibilitou um aumento enorme na produção de alimentos mundialmente. O desenvolvimento desses produtos permitiu que o crescimento populacional não fosse freado pela escassez de recursos.
Um convite à reflexão: apesar do planeta fornecer abundância em alimentação, essa necessidade fundamental não é acessível a todas as pessoas no planeta. Questões como a qualidade do alimento produzido, sua distribuição e política contribuem para que parte da população mundial seja privada desse direito básico. Só para você ter uma noção, de acordo com a avaliação da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) em 2017, cerca de 30% de toda a comida produzida no mundo vai para o lixo. Como que isso acontece? Bem, é desperdiçado ao longo das cadeis produtivas.
Mas por favor, não fique enviesado. O problema principal da alimentação hoje é sua inacessibilidade, causada pelas desigualdades sociais, não a maior ou menor eficiência de sua produção. Isso não quer dizer, é claro, que devemos terceirizar essa pauta. O engenheiro químico é — dentre várias outras áreas — participante importante dessa situação. A questão que fica para reflexões de todos é: como, então, tem sido essa participação?
2 - Medicamentos
Propor processos produtivos e otimizá-los é uma das principais atribuições do engenheiro químico. O aumento do rendimento para a produção em massa de antibióticos, dentre outros medicamentos, a custos relativamente baixos é sim uma das principais conquistas da engenharia química no último século.
Um convite à reflexão: apesar da produção em massa e barata de muitos medicamentos ser viável, a história da humanidade é marcada por taxação irresponsável e despropositada de medicamentos. Os preços abusivos foram, em vários casos, impedimentos para que muitas pessoas tivessem acesso a tratamentos. Esse problema é escancarado no documentário 'Fogo nas Veias', disponível na Netflix, que faz uma abordagem introdutória a um debate mais complexo sobre as patentes no meio farmacêutico e o capitalismo. O ponto é que, de uma maneira geral, o desenvolvimento de medicamentos pode refletir preconceitos em diversos níveis, cuidando de alguns grupos humanos mais do que outros.
Por isso, gostaríamos de convidar a todos que estão lendo esse post a pesquisar mais sobre o assunto. Afinal, não se trata de uma pauta simples para se limitar a um recorte dessa publicação. Porém, o questionamento que você já pode ir se fazendo é sobre qual a responsabilidade da engenharia química nisso tudo. O engenheiro químico também serve a essa indústria e, frequentemente, também a seus valores éticos.
3 - Plásticos
A partir do século XIX, os polímeros ganharam grande atenção química e, consequentemente, relevância produtiva. Entretanto, foi no século XX, com a atuação da engenharia química, que a produção econômica e em grande quantidade de plásticos foi viabilizada. Assim, além de sua vasta aplicabilidade, esses materiais também permitiram algumas economias de recursos ambientais. Exemplos disso são o desenvolvimento dos isolamentos térmicos, a diminuição do peso de materiais na confecção de automóveis, dentre outros.
Um convite à reflexão: plástico ainda está associado ao uso de matérias-primas não renováveis como o petróleo. Além de seu processo produtivo ser particularmente poluente, o material é geralmente descartado rapidamente, e sua dificuldade de compactação gera grandes volumes de lixo. A durabilidade plástica também é um problema, já que sua degradação é muito lenta. Quando descartado indevidamente, o plástico contribui para a formação de enchentes em meios urbanos, prejudica a vida marinha (formando microplásticos no oceano) e desestabiliza ecossistemas. Assim, conceitos como os 3R’s (reciclagem, reutilização e redução) e pesquisas que visem a produção de polímeros biodegradáveis com propriedades de interesse são fundamentais.
Nós sabemos que o meio ambiente tem ganhado — lentamente — mais atenção de indústrias e governos. O que não temos certeza é se isso tem acontecido também na formação dos nossos engenheiros químicos. Como profissional — futuro ou atual — da engenharia química, qual o seu nível de conhecimento e engajamento com a causa ambiental? Será que há a construção de uma ética ambiental sólida dentro dessa classe da engenharia?
4 - Produtos petroquímicos
A engenharia química foi ativa no desenvolvimento do processo que permite a quebra de compostos oriundos do petróleo em moléculas básicas. Foi essa conquista que permitiu a produção em larga escala de alguns dos principais produtos da atualidade: gasolina, óleo diesel, óleos lubrificantes, borracha e fibras sintética.
Um convite à reflexão: o petróleo é a mais importante fonte de energia da atualidade. Logo, é um pilar muito significativo da forma como a sociedade contemporânea vive e se desenvolve. Porém, esse mesmo pilar trata-se de um recurso esgotável e poluente. Dessa forma, a dependência petroleira além de preocupar por sua limitação a longo prazo, também é nociva por seus efeitos sobre o planeta Terra. A exploração moderna de petróleo é recente — segunda metade do século XIX — e ao mesmo tempo que sua contribuição para os modelos de organização humana é imensa, os desafios que entrega para a ciência também o são.
Às vezes, o reforço das demandas sustentáveis sociais parece repetitivo. Contudo, a necessidade de estabilidade dentro de uma sociedade cada vez menos estável, parece maior à medida que a necessidade de um legado positivo para as gerações futuras nos atinge. Portanto, assim como na discussão sobre os plásticos, o incentivo aqui é para a potencialização do conhecimento ambiental. O conhecimento que a engenharia química recebe, adquire e produz precisa ter foco no futuro, que vai além da pressão de satisfazer irresposavelmente demandas imediatas. Será que o engenheiro químico está pronto pra isso?
5 - Isótopos radioativos
Embora sejam perigosos, esses materiais possuem muitas aplicações. A separação e desintegração de isótopos radioativos é uma conquista da engenharia química que possibilita que a medicina monitore o funcionamento do organismo, identifique artérias e veias bloqueadas, identifique mecanismos metabólicos, enquanto viabiliza que a arqueologia faça a datação de artefatos.
Um convite à reflexão: há muito o que se dizer sobre os perigos do uso irresponsável do conhecimento. No entanto, optamos por destacar as problemáticas da segurança e do descarte desses materiais. É inegável que os rejeitos radioativos são preocupação global, uma vez que a negligência em qualquer etapa logística desse tipo de material pode trazer muitos riscos. Esse problema, inclusive, não é uma realidade distante. O mau descarte de equipamentos radioativos já trouxe danos imensuráveis a muitas famílias brasileiras no século passado.
Exemplos como esse, não somente chamam a atenção para a produção de ciência voltada para essa área, como também nos desafia a termos olhares mais holísticos sobre a atuação do engenheiro. Diga-me você, até que ponto você acredita que seria responsável pela segurança de trabalhadores e da sociedade durante o manuseio dos produtos da sua linha produtiva?
Conclusão
Como você pode ver, a engenharia química contribuiu para muitas conquistas relevantes. Entretanto, cada avanço atingido, trouxe também novos desafios dos quais a profissão deve, igualmente, participar. Um paralelismo interessante a se fazer, é como muitas dessas questões podem ser facilmente relacionadas às tendências da engenharia química que temos atualmente. Nesse artigo, focamos muito nas responsabilidades de quem é ou almeja ser profissional da área, com o objetivo de que reflexões mais profundas do papel individual do engenheiro sejam feitas. No entanto, é sempre bom ressaltar que a engenharia é um trabalho de equipe. Por isso, lembre-se sempre que muito do conhecimento e das respostas que necessitará, pode só ser revelado a partir das pessoas ao seu redor.
Esse texto te ajudou de alguma forma? Fala com a gente! Confira também:
Referências:
https://nacoesunidas.org/fao-30-de-toda-a-comida-produzida-no-mundo-vai-parar-no-lixo/
CREMASCO, M. A. Vale a Pena Estudar Engenharia Química, 3ª Edição. São Paulo: Blucher. 2015. pgs 29-30.
Comentários
Postar um comentário
Se chegou até aqui, não deixa de compartilhar com a gente o que você achou!