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(Imagem de Gerd Altmann por Pixabay) |
As tecnologias digitais, cada dia mais aprimoradas, transformaram em muitos aslpectos as vidas das pessoas. Exemplos disso são as recentes e profundas mudanças na forma como as pessoas se relacionam, expressam, aprendem e trabalham.
Com a indústria isso não é diferente. A digitalização desse negócio tem consequências muito significativas para o potencial competitivo das empresas (economia), para a otimização do aproveitamento de recursos (meio ambiente), para o perfil de profissionais (aqui destaca-se, também, engenheiros químicos) demandados e para o perfil de produtos oferecidos para o consumidor (estruturas sociais).
É desse processo que surge o termo indústria 4.0, assunto que discutiremos nesse post à luz de algumas de suas consequências no setor industrial, no mercado de trabalho e na sociedade.
Uma ilustração.
Para trazer o tema para mais próximo da gente, eu gostaria de te convidar a imaginar comigo a seguinte situação: você é o (a) engenheiro (a) de uma fábrica de cosméticos. Você ama seu trabalho, sempre foi seu sonho trabalhar com processos, mas... bem, as coisas não estão boas para você. O seu processo ainda é muito manual e as propriedades físico-químicas finais de seus produtos têm sido muito inconsistentes de uma produção para outra.Essa pouca constância tem gerado muita dor de cabeça para a sua empresa. As entregas para os clientes estão frequentemente atrasadas, há um desperdício enorme de insumos com o alto descarte de produtos de má qualidade e muito dinheiro e tempo são gastos tentando ajustar o máximo possível as mercadorias que foram produzidas fora da especificação. Além disso, como se não bastasse, a situação de constante retrabalho deixa seus colaboradores desmotivados, tornando a sua uma equipe cada dia menos produtiva.
Certo dia, seu chefe vem até você e te coloca uma pressão. Se os resultados não melhorarem você será substituído (a). Diante desse aperto, você procura saber mais sobre Lean Manufacturing, 6 sigma e automação. Aposta em um refino na área de gestão e na introdução de operações mais automatizadas para melhorar a eficiência do seu processo.
Seguindo essa direção, você apresenta e executa um projeto de automação na sua fábrica. Você moderniza seus equipamentos, introduz máquinas em todas as etapas viáveis e percebe, com o tempo, que a qualidade média de seus produtos melhorou. Além disso, você entrega mais rápido, então os clientes estão mais satisfeitos. Você agora tem uma linha produtiva previsível, controlada e eficiente que, se outrora empregava 500 operários, agora emprega 50 e gera muito mais lucros para a sua empresa.
Nesse ponto do texto eu gostaria de aproveitar essa ilustração para destacar quatro questões: a primeira refere-se às consequências negativas e imediatas na vida das pessoas que perderem seus empregos. A segunda trata uma possível discussão sobre a disparidade de recursos entre pequenas e grandes indústrias e, consequentemente, as dificuldades competitivas das empresas menos favorecidas. A terceira tem a ver com a otimização de recursos ambientais, energéticos, humanos e financeiros e seus desdobramentos. E a quarta, por fim, está relacionada à segurança do processo industrial, afinal a automação torna a produção mais controlável e segura para as pessoas e para o planeta.
Apesar desse texto não endereçar diretamente essas quatro questões, gostaria, pessoalmente, que você os tivesse em mente à medida que lesse a apresentação do assunto sob a perspectiva apresentada aqui. Até porque o objetivo não é fazer um balanço de prós e contras absoluto sobre essa fase de desenvolvimento da indústria, mas sim adicionar cartas ao jogo da etapa que estamos juntos vivenciando. Dito isso, vamos falar sobre a revolução industrial.
A(s) revolução(ões) industrial(ais)
Não dá pra conversar sobre Indústria 4.0 sem mencionar suas origens. Com base no artigo “Mudanças no Papel do Indivíduo Pós-Revolução Industrial e o Mercado de Trabalho na Sociedade da Informação”, podemos ver que seu comecinho, lá no século XVIII, com a Primeira Revolução Industrial, marca um processo contínuo de transformações profundas na sociedade. Por isso, nada mais que justo que fazer uma revisão breve das etapas desse fenômeno antes de entrarmos no nosso tema principal.- Primeira Revolução Industrial: foi protagonizada pelo carvão, pelo ferro, pelo vapor e pela Inglaterra. A manufatura é substituída pela maquinofatura e o trabalho antes feito por humanos que dominavam todo o processo produtivo é substituído por máquinas e trabalhadores alienados e escravos da produtividade.
- Segunda Revolução Industrial: possui como destaques a química, o petróleo, a eletricidade e as revoluções burguesas nas mais diversas nações. Surge o Capitalismo Financeiro — fase do sistema capitalista marcada pelos bancos e instituições financeiras. Aqui, a especulação financeira em torno de ações de empresas e formas diversas de crédito se tornam mercadorias a serem comercializadas. As demandas da industrialização ocasionam no surgimento da corrida imperialista, um projeto que afetou Ásia, África e América Latina.
- Terceira Revolução Industrial: marcada pela chegada da informática, da internet, dos computadores pessoais e a modernização do trabalho em fábricas e escritórios. Aumentou a integração econômica e política entre as nações devido aos avanços obtidos nas áreas de comunicação e transporte, sendo assim, uma fase de ampla globalização. Indo além das fábricas, contribuiu muito para o desenvolvimento científico.
- Quarta Revolução Industrial: as bases dessa etapa estão no conceito de Big Data (termo relacionado com a imensa quantidade de dados que é explorada na rede todos os dias) e da Internet das Coisas (relacionada à conexão de máquinas/objetos físicos com sistemas online). Dentro dessa etapa, as possibilidades são inúmeras, de modo que não dá para apontar apenas um grupo específico de tecnologias que se destaquem perante as outras.
A Indústria 4.0 na indústria
Como é explicitado por Livia Tizzo, engenheira da Braskem, em sua palestra ministrada na Semana de Engenharia Química da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), a ciência dos dados é uma área de engenharia química. Principalmente quando falamos da aplicação desse conhecimento mais voltado para tecnologia e sistemas aplicados a processos industriais, isto é, quando falamos de automação.De fato, a automação pode potencializar muito o trabalho da figura do engenheiro químico. E para te ajudar a visualizar isso um pouco melhor, eu trago aqui os exemplos citados pela Lívia em sua apresentação:
Qualidade do produto: uso de modelos matemáticos que preveem o comportamento das propriedades físico-químicas do produtos de acordo com as condições do reator.
Em que isso ajuda: na ausência desses modelos, o que ajuda a indústria a acompanhar a produção são os testes experimentais feitos no laboratório. Esses testes demandam tempo para serem realizados e possuem frequência de realização limitada. Portanto, se alguma condição de operação precisar ser alterada para que um produto dentro das especificações seja obtido, todos os reagentes presentes no reator e todo o tempo de processamento ocorrido antes dos resultados do teste experimental estarem disponíveis são perdidos.
Manutenção preditiva: avaliação da necessidade de manutenção feita a partir de dados que possibilitam prever problemas.
Manutenção preditiva: avaliação da necessidade de manutenção feita a partir de dados que possibilitam prever problemas.
Em que isso ajuda: se o acompanhamento digital é eficiente, a frequência de manutenções pode ser reduzida para um número x que representa as intervenções realmente necessárias. Em um outro ponto de vista sobre essa tecnologia, ela ajuda a garantir a segurança da operação. Afinal, permite identificar problemas no maquinário que antes não seriam notados facilmente, garantindo a existência de processos mais seguros.
Assistência remota: trata-se de um dispositivo para conectar pessoas e situações remotamente. Isso permite que um especialista disponível presencialmente em outro local, mesmo que muito distante da fábrica, veja o que o operador na produção está vendo e possa orientá-lo na solução do problema rapidamente.
Em que isso ajuda: permite respostas mais rápidas. O especialista da companhia em determinados assuntos pode estar localizado em outro país durante uma emergência ou a disponibilidade de profissionais com conhecimento técnico que resolva uma situação nas proximidades da linha de produção pode ser pequena/inexistente. Assim, a demora e o trabalho logístico com transporte de pessoas é evitado com a implementação dessa tecnologia. Além disso, ela permite capacitar melhor a mão-de-obra da fábrica.
Torres de controle: correspondem à integração de cadeias de dados. Em outras palavras, são a tentativa de se ter em um mesmo local de visualização de dados todas as informações da cadeia logística (fornecimento, distribuição e produção).
Em que isso ajuda: basicamente, traz mais visibilidade para os dados. Por conseguinte, agiliza as tomadas de decisão da fábrica.
A digitalização industrial permite que produtos mais personalizados, em que o cliente faz escolhas e relaciona-se com a linha de produção diretamente por meio de plataformas digitais pareçam uma realidade mais factível.
Ao lado dela, uma perspectiva que pode mudar o comércio é a possibilidade da reunião de dados de consumo momentâneo determinar o que estará nas prateleiras no futuro. Ou seja, é a proposta de que a reunião de informações sobre como as pessoas desempenham diversas atividades passe a moldar os produtos.
Por fim, uma outra tendência é a integração de mercadorias. Aqui é possível citar o modelo de carros inteligentes desenvolvido no setor automobilístico. Um exemplo dessa tendência é a parceria entre a Fiat e a Visa feita no final de 2019 com o objetivo de desenvolver soluções de pagamento integradas aos automóveis.
É interessante lembrar disso porque, se formos voltar um pouco na história das revoluções industriais, vamos perceber que a questão do aprofundamento das desigualdades não é uma novidade. Ela esteve presente por meio da incitação de relações de poder que concentram o capital nas mãos de alguns grupos durante todas as suas etapas.
No caso especial da indústria 4.0, as consequências mais visíveis dessa era é que, além de diminuir muito a oferta de empregos no setor industrial à medida que avança. Ela também eleva as demandas por capacitação de profissionais, privilegiando pessoas com alta formação técnica.
Se relembrarmos um pouco da história da indústria química, uma das vantagens competitivas da Alemanha, que fez com que o país liderasse o mundo nessa área desde o final do século XIX até a Segunda Grande Guerra, era a qualidade de suas escolas. Na época, a educação foi fundamental para a aceleração desse setor.
No contexto atual, isso não é muito diferente. A educação hoje é muito importante para a introdução de profissionais no mercado de trabalho. Logo, o acesso a este serviço com qualidade, já fundamental nos dias atuais, tende a se tornar ainda mais necessário com o avanço da automação.
Daqui, já podemos tirar algumas reflexões para o Brasil. Afinal, qual o investimento que fazemos na área da educação? Quantas são as iniciativas de inclusão digital voltadas para a nossa população? Como as desigualdades sociais oferecem e limitam oportunidades formativas para os cidadãos brasileiros?
Eu não quero entrar nesse assunto, mas as respostas a essas perguntas têm efeitos muito profundos na vida de indivíduos, na economia nacional e, também, na autonomia da nação. Principalmente à medida que a quarta revolução industrial avança.
Como relata o artigo “O Direito Fundamental à Proteção em Face à Automação e a Indústria 4.0”, na Constituição brasileira, o trabalhador é protegido dos avanços da automação com maior destaque a partir do artigo 7º, XXVII, CRFB. A inspiração para esse texto está na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, cujo artigo 23º prevê que “toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego”.
De acordo com os autores do artigo, o texto da CRFB não quer dizer, contudo, que o progresso tecnológico e científico deva ser prejudicado. O que, apesar de ser razoável, gera uma certa ambiguidade. No fim das contas, a automação é aceleradora do progresso tecnológico e científico. Logo, faz parte dele.
Sobre esse impasse, a Ministra Cármen Lúcia nos traz algumas elucidações teóricas ao relatar o Mandado de Injunção nº 618-MG:
“O art. 7º, inc. XXVII, da Constituição não estipula como direito do trabalhador proteção contra ‘inovações tecnológicas’, mas sim ‘em face da automação’, conceitos diferentes. Na automação substitui-se o trabalho humano pelo de máquinas. A inovação tecnológica está relacionada a mudanças na tecnologia, não havendo necessariamente a substituição do homem por máquina”.
A ideia de sociedade 5.0 surgiu no Japão em 2016. O objetivo da proposta é fomentar uma sociedade em que a tecnologia é usada para beneficiar o bem-estar do ser humano. Em um paralelismo com a ideia de sustentabilidade que diz equilibrar economia, sociedade e meio ambiente; a sociedade 5.0 busca balancear desenvolvimento econômico com benefício social.
O jeito de fazer isso seria integrando ciberespaço e espaço físico, transformando a mobilidade, desenvolvendo casas inteligentes, otimizando energia, criando assistentes personalizados, etc. Basicamente, é a ideia de se beneficiar de tudo o que tem sido conquistado pela indústria 4.0 e colocar isso a serviço da humanidade, melhorando sua qualidade de vida.
Um fator legal sobre isso é que, na verdade, se avaliado sob o referencial de alguns grupos sociais, a revolução industrial tem melhorado muito a qualidade de vida do ser humano. Talvez por isso, essa esperança colocada no nosso avanço tecnológico e no desenvolvimento de nossas indústrias não seja nenhuma novidade. No fim das contas, ela foi presente também nas etapas anteriores da revolução industrial.
Esse movimento tecnológico nas indústrias, que é relevante ressaltar, foi participante crucial da sequência de acontecimentos que levaram às duas maiores e piores guerras do séc. XX foi visto por seus observadores, frequentemente, como uma promessa de uma nova era em que o benefício social seria compartilhado.
Assistência remota: trata-se de um dispositivo para conectar pessoas e situações remotamente. Isso permite que um especialista disponível presencialmente em outro local, mesmo que muito distante da fábrica, veja o que o operador na produção está vendo e possa orientá-lo na solução do problema rapidamente.
Em que isso ajuda: permite respostas mais rápidas. O especialista da companhia em determinados assuntos pode estar localizado em outro país durante uma emergência ou a disponibilidade de profissionais com conhecimento técnico que resolva uma situação nas proximidades da linha de produção pode ser pequena/inexistente. Assim, a demora e o trabalho logístico com transporte de pessoas é evitado com a implementação dessa tecnologia. Além disso, ela permite capacitar melhor a mão-de-obra da fábrica.
Torres de controle: correspondem à integração de cadeias de dados. Em outras palavras, são a tentativa de se ter em um mesmo local de visualização de dados todas as informações da cadeia logística (fornecimento, distribuição e produção).
Em que isso ajuda: basicamente, traz mais visibilidade para os dados. Por conseguinte, agiliza as tomadas de decisão da fábrica.
Algumas oportunidades de negócio
Além do aumento de produtividade e eficiência da linha produtiva, que proporciona economia de matéria-prima e energia — o que beneficia o meio ambiente e torna a indústria mais competitiva — há também a vantagem da aproximação com o cliente.A digitalização industrial permite que produtos mais personalizados, em que o cliente faz escolhas e relaciona-se com a linha de produção diretamente por meio de plataformas digitais pareçam uma realidade mais factível.
Ao lado dela, uma perspectiva que pode mudar o comércio é a possibilidade da reunião de dados de consumo momentâneo determinar o que estará nas prateleiras no futuro. Ou seja, é a proposta de que a reunião de informações sobre como as pessoas desempenham diversas atividades passe a moldar os produtos.
Por fim, uma outra tendência é a integração de mercadorias. Aqui é possível citar o modelo de carros inteligentes desenvolvido no setor automobilístico. Um exemplo dessa tendência é a parceria entre a Fiat e a Visa feita no final de 2019 com o objetivo de desenvolver soluções de pagamento integradas aos automóveis.
O mercado e o trabalho
Atualmente, a inteligência artificial já disputa empregos com seres humanos. E a tendência é que as pessoas estejam progressivamente em desvantagem ao disputarem “vagas” com as máquinas. Assim, é possível prever um problema de aniquilação de empregos que trazem consigo o agravamento das desigualdades sociais.É interessante lembrar disso porque, se formos voltar um pouco na história das revoluções industriais, vamos perceber que a questão do aprofundamento das desigualdades não é uma novidade. Ela esteve presente por meio da incitação de relações de poder que concentram o capital nas mãos de alguns grupos durante todas as suas etapas.
No caso especial da indústria 4.0, as consequências mais visíveis dessa era é que, além de diminuir muito a oferta de empregos no setor industrial à medida que avança. Ela também eleva as demandas por capacitação de profissionais, privilegiando pessoas com alta formação técnica.
Se relembrarmos um pouco da história da indústria química, uma das vantagens competitivas da Alemanha, que fez com que o país liderasse o mundo nessa área desde o final do século XIX até a Segunda Grande Guerra, era a qualidade de suas escolas. Na época, a educação foi fundamental para a aceleração desse setor.
No contexto atual, isso não é muito diferente. A educação hoje é muito importante para a introdução de profissionais no mercado de trabalho. Logo, o acesso a este serviço com qualidade, já fundamental nos dias atuais, tende a se tornar ainda mais necessário com o avanço da automação.
Daqui, já podemos tirar algumas reflexões para o Brasil. Afinal, qual o investimento que fazemos na área da educação? Quantas são as iniciativas de inclusão digital voltadas para a nossa população? Como as desigualdades sociais oferecem e limitam oportunidades formativas para os cidadãos brasileiros?
Eu não quero entrar nesse assunto, mas as respostas a essas perguntas têm efeitos muito profundos na vida de indivíduos, na economia nacional e, também, na autonomia da nação. Principalmente à medida que a quarta revolução industrial avança.
Um pouco de direito.
Diante das ameaças de desemprego estrutural ocasionado pela indústria 4.0, faz sentido dar uma olhada em outras abordagens disponíveis sobre esse tema. Uma delas é à luz da área de Direito que discute como a Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) trata o problema.Como relata o artigo “O Direito Fundamental à Proteção em Face à Automação e a Indústria 4.0”, na Constituição brasileira, o trabalhador é protegido dos avanços da automação com maior destaque a partir do artigo 7º, XXVII, CRFB. A inspiração para esse texto está na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, cujo artigo 23º prevê que “toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego”.
De acordo com os autores do artigo, o texto da CRFB não quer dizer, contudo, que o progresso tecnológico e científico deva ser prejudicado. O que, apesar de ser razoável, gera uma certa ambiguidade. No fim das contas, a automação é aceleradora do progresso tecnológico e científico. Logo, faz parte dele.
Sobre esse impasse, a Ministra Cármen Lúcia nos traz algumas elucidações teóricas ao relatar o Mandado de Injunção nº 618-MG:
“O art. 7º, inc. XXVII, da Constituição não estipula como direito do trabalhador proteção contra ‘inovações tecnológicas’, mas sim ‘em face da automação’, conceitos diferentes. Na automação substitui-se o trabalho humano pelo de máquinas. A inovação tecnológica está relacionada a mudanças na tecnologia, não havendo necessariamente a substituição do homem por máquina”.
Uma nova sociedade.
A expectativa do aumento das desigualdades não somente é ruim, como representa um conflito na engenharia química. Isso acontece porque a automação, implementada muitas vezes pelo engenheiro, é ao mesmo tempo responsável pelo aumento da eficiência de processos como também pelo impulsionamento do desemprego estrutural. No entanto, há uma outra perspectiva, mais positiva, interessante sobre a quarta revolução industrial: a sociedade 5.0.A ideia de sociedade 5.0 surgiu no Japão em 2016. O objetivo da proposta é fomentar uma sociedade em que a tecnologia é usada para beneficiar o bem-estar do ser humano. Em um paralelismo com a ideia de sustentabilidade que diz equilibrar economia, sociedade e meio ambiente; a sociedade 5.0 busca balancear desenvolvimento econômico com benefício social.
O jeito de fazer isso seria integrando ciberespaço e espaço físico, transformando a mobilidade, desenvolvendo casas inteligentes, otimizando energia, criando assistentes personalizados, etc. Basicamente, é a ideia de se beneficiar de tudo o que tem sido conquistado pela indústria 4.0 e colocar isso a serviço da humanidade, melhorando sua qualidade de vida.
Um fator legal sobre isso é que, na verdade, se avaliado sob o referencial de alguns grupos sociais, a revolução industrial tem melhorado muito a qualidade de vida do ser humano. Talvez por isso, essa esperança colocada no nosso avanço tecnológico e no desenvolvimento de nossas indústrias não seja nenhuma novidade. No fim das contas, ela foi presente também nas etapas anteriores da revolução industrial.
Esse movimento tecnológico nas indústrias, que é relevante ressaltar, foi participante crucial da sequência de acontecimentos que levaram às duas maiores e piores guerras do séc. XX foi visto por seus observadores, frequentemente, como uma promessa de uma nova era em que o benefício social seria compartilhado.
Ou seja, uma nova realidade em que as pessoas finalmente poderiam compartilhar das conquistas do progresso, participando da distribuição das riquezas e dos privilégios historicamente pertencentes a uma minoria específica.
No entanto, essa promessa não foi cumprida por nenhuma das etapas que conhecemos. E, dadas as desigualdades que são participantes do desenvolvimento da indústria 4.0, elas devem continuar sem serem cumpridas. Afinal, o avanço técnico-científico, apesar de muito contribuir, não é capaz de modificar a natureza das relações humanas.
Epílogo: o engenheiro químico 4.0
Na era da digitalização, as indústrias carecem de pessoas capacitadas tanto em processos quanto em automação em suas fábricas. Isso valoriza profissionais com conhecimento em softwares, programação e IoT.Ao mesmo tempo, a mudança nas relações trabalhistas tem criado a demanda por outras habilidades, como uma boa oratória, um perfil proativo, liderança, facilidade de trabalhar em equipe e conhecimentos em metodologias ágeis de gestão. A exigência das empresas também é maior, como reflexo do contexto em que estamos inseridos.
Todas essas habilidades ajudam a incentivar o imaginativo da participação do engenheiro nos projetos da indústria 4.0 e suas consequências sociais que podem vir a ser problemáticas, como visto ao longo do post. Para um mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), há uma engenharia química também progressivamente mais VUCA, cuja participação nas transformações sociais não pode ter impacto ignorado.
Todas essas habilidades ajudam a incentivar o imaginativo da participação do engenheiro nos projetos da indústria 4.0 e suas consequências sociais que podem vir a ser problemáticas, como visto ao longo do post. Para um mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), há uma engenharia química também progressivamente mais VUCA, cuja participação nas transformações sociais não pode ter impacto ignorado.
Confira também:
Referências
Totvs - Impactos da Indústria 4.0: os reflexos nos negócios e na sociedade
SEQ Unesp - A transformação da indústria química com a revolução industrial
Gazeta do Povo - Fiat e Visa querem transformar o carro em cartão de crédito
Nações Unidas - Declaração Universal dos Direitos Humanos
IEEP - O que é o mundo VUCA?
Brasil Escola - Capitalismo Financeiro
Revista Curitiba - O Direito Fundamental à Proteção em Face à Automação e a Indústria 4.0
Fadisp - Mudanças no Papel do Indivíduo Pós-Revolução Industrial e o Mercado de Trabalho na Sociedade da Informação
Totvs - Impactos da Indústria 4.0: os reflexos nos negócios e na sociedade
SEQ Unesp - A transformação da indústria química com a revolução industrial
Gazeta do Povo - Fiat e Visa querem transformar o carro em cartão de crédito
Nações Unidas - Declaração Universal dos Direitos Humanos
IEEP - O que é o mundo VUCA?
Brasil Escola - Capitalismo Financeiro
Revista Curitiba - O Direito Fundamental à Proteção em Face à Automação e a Indústria 4.0
Fadisp - Mudanças no Papel do Indivíduo Pós-Revolução Industrial e o Mercado de Trabalho na Sociedade da Informação
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