Qual a primeira patente do Brasil?

Independente do campo em que atue o profissional — pesquisa, consultoria ou manufatura — a indústria é o principal campo de atenção da engenharia química. Por isso, um profissional que queira ser bem sucedido em seu ramo deve conhecer a formação e consolidação de seu setor na sociedade, e isso, a gente só consegue com um pouquinho de história! 

Por isso, hoje o tópico abordado é nada mais e nada menos do que a primeira patente do Brasil, que sim, acompanhou os primórdios da atividade industrial no nosso país.

Primeira patente no Brasil
(Imagem: Eunice de Faria por Pixabay)

O princípio vagaroso. 

A Revolução Industrial, predecessora fundamental da Indústria Química, foi iniciada em meados de 1740 na Inglaterra. Rapidamente, alastrou-se por parte significativa da Europa e dos Estados Unidos. Esse acontecimento, que mudou drasticamente os modos de produção conhecidos, chegou tardiamente no Brasil. Na verdade, quando se pensa em industrialização na América Latina, frequentemente você verá o uso do termo ‘tardia’ a classificando. Tal fato se justifica porque esses países, marcados pela colonização, só completaram sua primeira etapa nesse processo quase um século após ele ter sido completado no continente europeu.

Sob a metrópole.

O atraso no desenvolvimento brasileiro não foi à toa. Como colônia, ainda éramos reféns da metrópole portuguesa que proibia o investimento no setor manufatureiro em solo latino. Essa resistência em fortalecer e diversificar a nossa economia era pautada em interesses específicos que tinham como base dois fatores:
  1. Portugal também estava em seu processo de industrialização, e os produtos resultantes da indústria colonial disputariam mercado com aqueles produzidos no reino português.
  2. A indústria é, como pode ser observado com muito mais facilidade em nosso passado recentemente, um sintoma de fortalecimento econômico. Esse fortalecimento poderia favorecer a independência da colônia, hipótese essa que não estava inclusa na lista de interesses portugueses.
Entretanto, essa situação modificou-se no início do século XIX. Em 1806, Napoleão Bonaparte, buscando enfraquecer a Inglaterra, estabeleceu o Bloqueio Continental. Assim, ficou determinado que os países europeus deveriam fechar seus portos para navios ingleses. Vendo-se em uma situação difícil, os portugueses tentaram segurar a situação a qualquer custo, porém isso acabou não dando muito certo.

A fuga e um recomeço.

Devida a importante aliança comercial que Portugal possuía com a nação britânica, a família de Bragança se viu em uma complicada posição que culminou com a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 28 de novembro de 1807. A fuga às pressas foi escoltada pelos ingleses, que viabilizaram uma viagem segura para a côrte que desembarcou em solo brasileiro em 22 de janeiro de 1808.
Ainda nesse ano, com a mudança da sede monárquica para o território sul-americano, Dom João VI tomou medidas que favoreciam a indústria brasileira. Dentre elas estavam:
  1. A extinção da lei contra a instalação de fábricas de tecidos no Brasil e;
  2. possibilidade de importação de matéria-prima para abastecimento fabril, sem taxas de importação.
Porém, apesar do incentivo, o crescimento industrial brasileiro demorou bastante a se destacar. No século XIX, o setor agropecuário era a principal economia da colônia, e as atenções estavam voltadas para a produção de café, que era a principal fonte de riqueza na época.

Café com tech.

Dentro desse cenário, não é surpreendente que a primeira patente brasileira no Brasil estivesse relacionada com a cafeicultura. Em 1822, Luiz Louvian e Simão Clothe solicitaram uma patente de 5 anos relacionada à invenção de uma máquina de descascar café. A utilização, algumas décadas depois, de novas tecnologias como o arado e despolpadores utilizados para o descascamento dos grãos, foi muito importante para o aumento da eficiência produtiva desse produto.

Apresentada essa questão, é importante lembrar que a produção cafeeira no final do século XIX foi marcante nos conflitos políticos brasileiros. Além disso, foi esse setor o responsável pela criação de uma classe dominante que protagonizaria os cargos de liderança política brasileiros no futuro. As consequências desse monopólio de poder são explicitamente observadas durante toda a história do Brasil no século XX.

Por isso, devemos ressaltar que a introdução de tecnologias voltadas para a otimização de produção no nosso país enfrentou muitos desafios. Entretanto, a primeira patente solicitada na nação revela um aspecto ainda muito notável do mercado em que o engenheiro químico está inserido: a inovação tecnológica surge, como esperado, nos locais em que o capital está mais interessado. Isso nem sempre é um problema, porém os conflitos difíceis surgem, verdadeiramente, quando o capital anseia por um caminho que é totalmente divergente do bem comum. 

Afinal, engenharia também é política.

Esse texto contribuiu para o seu conhecimento? Comente aí e não deixe de conferir também:



Comentários