A história do plástico relata transformações muito importantes para a construção da sociedade contemporânea. A amplitude das contribuições desse produto permitiu avanços imprevisíveis para a indústria no século passado.
Entretanto, o uso expansivo desses polímeros, suas propriedades, características de produção e descarte ocasionaram em danos ao meio ambiente que rapidamente minaram a imagem dos plásticos nas comunidades. Recentemente, o aumento do consumo plástico no cenário pandêmico reacendeu o debate sobre o seu uso no mundo.
Diante desse contexto, tanto críticos desses produtos, quanto defensores, usaram a oportunidade para reforçar os contras e os prós dos polímeros para os seres humanos. Acho que essa é uma boa oportunidade para pensar como a engenharia química pode contribuir para a conversa.
Em cenário pandêmico, tivemos que recorrer ao plástico. Afinal, ele está nas construções, nos aparelhos e nas EPI’s médicas. Inclusive, a conveniência plástica tanto de preço quanto de flexibilidade, adaptando-se a várias situações, é mais que importante em cenários de urgência como o atual.
Para ilustrar isso, é só dar uma olhada nesse ocorrido nos laboratórios da UFPR. Junto com várias outras iniciativas no país, eles contribuíram para a produção de estruturas de máscaras de proteção para profissionais da saúde a partir de impressoras 3D. Dificilmente esse tipo de resposta seria possível se o material disponível para a confecção fosse uma madeira, um metal, ou um cerâmico, por exemplo.
Em contrapartida, os benefícios do uso massivo dos polímeros também trouxeram consequências. Como aponta o UOL, no começo da crise muitos interessados no sucesso desse setor viram conveniência na propagação de campanhas segundo as quais o “plástico salva vidas”.
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(Imagem de Tibor Janosi Mozes por Pixabay) |
Um balanço rápido de prós e contras.
Um material leve, de qualidade e resistente tem inegavelmente suas razões para ser comemorado e, não à toa, é uma das conquistas da engenharia química no século XX. A substituição de metais por polímeros desse tipo permitiu a produção de objetos de consumo menos pesados, mais baratos e, em alguns casos, mais seguros (como os automóveis).Em cenário pandêmico, tivemos que recorrer ao plástico. Afinal, ele está nas construções, nos aparelhos e nas EPI’s médicas. Inclusive, a conveniência plástica tanto de preço quanto de flexibilidade, adaptando-se a várias situações, é mais que importante em cenários de urgência como o atual.
Para ilustrar isso, é só dar uma olhada nesse ocorrido nos laboratórios da UFPR. Junto com várias outras iniciativas no país, eles contribuíram para a produção de estruturas de máscaras de proteção para profissionais da saúde a partir de impressoras 3D. Dificilmente esse tipo de resposta seria possível se o material disponível para a confecção fosse uma madeira, um metal, ou um cerâmico, por exemplo.
Em contrapartida, os benefícios do uso massivo dos polímeros também trouxeram consequências. Como aponta o UOL, no começo da crise muitos interessados no sucesso desse setor viram conveniência na propagação de campanhas segundo as quais o “plástico salva vidas”.
Esse acontecimento potencializou a busca e consumo de descartáveis, além de proporcionar o aumento da demanda das embalagens plásticas. Tudo isso sem levar em consideração, é claro, o fato de que o plástico é um dos materiais em que o vírus possui o tempo de sobrevivência mais longo — até 3 dias.
Eventos como esse podem indicar como os setores influenciam a opinião pública para seus fins lucrativos, mesmo que essa influência resulte em atitudes questionáveis no contexto socioambiental. Contudo, para os defensores do plástico, essa situação denuncia um pensamento disseminado na sociedade que associa o plástico com o descartável e sem valor. Por conseguinte, o consumo e o descarte negligente dos materiais se mostram comuns.
O problema com esse argumento é que ele parte de uma perspectiva de que muito já foi feito pela conscientização das pessoas sobre esse assunto, o que é questionável. De acordo com a pesquisa Um Mundo Descartável — Os Desafios das Embalagens e do Lixo, divulgada em novembro de 2019, 65% dos brasileiros acreditam que todos os plásticos são recicláveis, enquanto a média mundial, também alta, é de 55% de pessoas com esse mesmo pensamento.
Talvez esse desconhecimento seja um dos sintomas do que pode estar por trás das pequenas taxa de reciclagem no planeta. Ano passado, o Brasil era o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo — atrás apenas de EUA, China e Índia — e um dos que menos reciclavam (somente 1,28% do lixo plástico era reciclado em nosso país contra 9% da média global de reciclagem, uma média também tremendamente ruim).
Esses dados são, no mínimo, incômodos. O fim inadequado de plásticos que, em sua maioria, demoram muito a degradar afeta a vida aquática e (também) humana. Neste espectro, dá pra citar os microplásticos — partículas de até 5 mm — que têm sido ingeridos por animais, incluindo aqui o gênero homo, e participado cada vez mais ativamente da cadeia alimentar. Embora ainda pouco se saiba sobre os riscos da contaminação com esses materiais, sabe-se que alguns deles podem conter substâncias nocivas ao organismo, tendo o potencial de gerar também um problema de saúde pública.
Uma observação interessante é que o descarte já configura uma ameaça ambiental grave. Porém o plástico começa a poluir muito antes disso, lá no seu processo de produção de origem petroleira. De modo que os danos ambientais causados por eles são subestimados quando limitados à pauta do acúmulo de lixo nos aterros e a poluição das águas.
Eventos como esse podem indicar como os setores influenciam a opinião pública para seus fins lucrativos, mesmo que essa influência resulte em atitudes questionáveis no contexto socioambiental. Contudo, para os defensores do plástico, essa situação denuncia um pensamento disseminado na sociedade que associa o plástico com o descartável e sem valor. Por conseguinte, o consumo e o descarte negligente dos materiais se mostram comuns.
O problema com esse argumento é que ele parte de uma perspectiva de que muito já foi feito pela conscientização das pessoas sobre esse assunto, o que é questionável. De acordo com a pesquisa Um Mundo Descartável — Os Desafios das Embalagens e do Lixo, divulgada em novembro de 2019, 65% dos brasileiros acreditam que todos os plásticos são recicláveis, enquanto a média mundial, também alta, é de 55% de pessoas com esse mesmo pensamento.
Talvez esse desconhecimento seja um dos sintomas do que pode estar por trás das pequenas taxa de reciclagem no planeta. Ano passado, o Brasil era o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo — atrás apenas de EUA, China e Índia — e um dos que menos reciclavam (somente 1,28% do lixo plástico era reciclado em nosso país contra 9% da média global de reciclagem, uma média também tremendamente ruim).
Esses dados são, no mínimo, incômodos. O fim inadequado de plásticos que, em sua maioria, demoram muito a degradar afeta a vida aquática e (também) humana. Neste espectro, dá pra citar os microplásticos — partículas de até 5 mm — que têm sido ingeridos por animais, incluindo aqui o gênero homo, e participado cada vez mais ativamente da cadeia alimentar. Embora ainda pouco se saiba sobre os riscos da contaminação com esses materiais, sabe-se que alguns deles podem conter substâncias nocivas ao organismo, tendo o potencial de gerar também um problema de saúde pública.
Uma observação interessante é que o descarte já configura uma ameaça ambiental grave. Porém o plástico começa a poluir muito antes disso, lá no seu processo de produção de origem petroleira. De modo que os danos ambientais causados por eles são subestimados quando limitados à pauta do acúmulo de lixo nos aterros e a poluição das águas.
Mas o foco desse texto não é entrar em todos esses desdobramentos. Em suma, o objetivo aqui é mostrar que mesmo que os benefícios sejam enormes, a magnitude dos prejuízos também precisa ser levada a sério. Afinal, o lado pra onde pende a balança dos prós e contras pode ser determinante para a avaliação que fazemos das propostas que temos, hoje, para a minimização dos efeitos colaterais plásticos. À propósito, vamos começar a falar mais desse tópico agora.
A classificação dos polímeros consiste na diferenciação entre termoplásticos e termorrígidos. Basicamente, os termoplásticos são aqueles que não sofrem alteração em sua estrutura química diante do aquecimento. Estes, podem ser remoldados em seus processos de fabricação sendo, em geral, mais facilmente reciclados. Os termorrígidos, por sua vez, sofrem decomposição em altas temperaturas, o que dificulta a reciclagem.
Alguns exemplos de termoplásticos são o PET (politereftalato de etileno), o poliestireno e o PVC (policloreto de polivinila). Já no grupo dos termorrígidos podemos citar o poliuretano, o EVA (acetato-vinilo de etileno) e a resina fenólica.
Em termos de descarte, é possível dividir os polímeros em pós-industriais e pós-consumo. Os primeiros são resíduos de processos de transformação industrial. Enquanto os segundos são descartes do consumidor final. Essa diferenciação é útil principalmente porque a logística de descarte dos polímeros tem que ser pensada de acordo com a origem do lixo gerado, só assim é possível identificar causas-problema, intervenções e responsáveis em cada caso.
Alguns pingos nos i’s.
Antes de começar a discutir qualquer coisa, vamos dar uma olhada em algumas classificações. Assim será possível avaliar as soluções que temos atualmente e seus potenciais reais de fazer a diferença. Como nos conta a Complast, é possível fazer uma classificação de polímeros pelas propriedades do material e uma outra classificação pelo descarte, relacionada a quem é o responsável por descartar o resíduo.A classificação dos polímeros consiste na diferenciação entre termoplásticos e termorrígidos. Basicamente, os termoplásticos são aqueles que não sofrem alteração em sua estrutura química diante do aquecimento. Estes, podem ser remoldados em seus processos de fabricação sendo, em geral, mais facilmente reciclados. Os termorrígidos, por sua vez, sofrem decomposição em altas temperaturas, o que dificulta a reciclagem.
Alguns exemplos de termoplásticos são o PET (politereftalato de etileno), o poliestireno e o PVC (policloreto de polivinila). Já no grupo dos termorrígidos podemos citar o poliuretano, o EVA (acetato-vinilo de etileno) e a resina fenólica.
Em termos de descarte, é possível dividir os polímeros em pós-industriais e pós-consumo. Os primeiros são resíduos de processos de transformação industrial. Enquanto os segundos são descartes do consumidor final. Essa diferenciação é útil principalmente porque a logística de descarte dos polímeros tem que ser pensada de acordo com a origem do lixo gerado, só assim é possível identificar causas-problema, intervenções e responsáveis em cada caso.
Dito isso, podemos dar uma olhada em algumas propostas discutidas quando se fala de plástico e meio ambiente. A partir daqui, serão mostradas iniciativas que se aplicam ora à produção, ora ao descarte, ora à economia. De uma maneira que, dentro do escopo da engenharia química é possível começar a pensar em como elas dialogam entre si e quais são suas vantagens e desvantagens.
Nos últimos anos, vários estudos têm se dedicado a buscar alternativas que amenizem os efeitos colaterais negativos dos produtos plásticos. Assim, pesquisadores contribuíram tanto no escopo do desenvolvimento do material por meio de fontes renováveis quanto na procura pela redução do tempo de degradação plástica na natureza. Algumas categorias de polímeros, resultantes dessas investigações, são citadas a seguir:
Em que ponto estamos:
Atualmente já há a introdução de alguns bioplásticos na indústria. Todavia, entende-se os bioplásticos como uma possível solução a longo prazo para essa temática. Dessa forma, associada às pesquisa que seguem nesta direção, é necessário que haja a formulação de outras ações de curto prazo que possam diminuir o desperdício de material, já muito alto.
Uma crítica comum à forma como os bioplásticos são divulgados para a comunidade refere-se ao fato de muitas vezes eles serem tratados como falsas promessas ecológicas. Um bioplástico ainda pode poluir os mares e demorar muitos anos para se degradar.
Aliás, a fonte renovável é um tema relevante. Há biopolímeros produzidos a partir do lixo orgânico, como o PHA, e a maioria dos resíduos da agroindústria são, no geral, oportunidades positivas de desenvolvimento de novos materiais. Contudo, a partir do momento que uma proposta de bioplástico demanda o aumento de áreas de plantio de algum vegetal, o que impulsiona o desmatamento, ou cria uma competição com a indústria de alimentos por matéria-prima, as vantagens ecológicas e humanitárias ficam comprometidas.
Entrando no campo da economia, o custo de produção de um bioplástico é, em quase todos os casos, maior do que o custo de produção do plástico convencional. Mais do que isso, o processo produtivo de biopolímeros é diferente daquele feito a partir do petróleo, o que demanda da fábrica investimentos na adaptação de equipamentos e na capacitação da mão-de-obra.
O que incentiva a incorporação lenta dos bioplásticos pelas indústrias é o preço do barril de petróleo. Afinal, no cenário futuro, a tendência é que essa matéria-prima se torne mais cara. No entanto, enquanto o processo de menor custo for o mais poluente, a implementação de alternativas mais sustentáveis dificilmente se tornará algo de grande expressão no setor.
Apesar do aumento de escala possibilitar o barateamento produtivo, o desenvolvimento de conhecimento industrial nessa direção é fundamental para que a implementação de bioplásticos seja realmente amadurecida. A especificidade de algumas produções, marcadass por processos biológicos, levantam dúvidas relacionadas à capacidade dos polímeros de origem vegetal de atenderem a alta necessidade do mercado.
Aqui, é possível usar o exemplo do polietileno verde. Enquanto o original deriva da nafta, esse deriva do etanol. Uma questão que rodeia o crescimento da produção de etanol é o limite de recursos estabelecido pelas áreas plantadas e as questões ambientais (e econômicas) relacionadas a este aumento.
Dessa forma, mesmo que sejam uma boa alternativa, os bioplásticos não podem ser assumidos indiscriminadamente como a solução absoluta (ainda que a longo prazo) para o problema. Isso não quer dizer que a implementação e introdução progressiva deles na indústria não seja positiva, mas serve de aviso de que as consequências futuras dessa introdução também precisam ser levadas em consideração.
Em que ponto estamos:
Apesar de parecer promissor, esse tipo de plástico normalmente não chega a se degradar totalmente, sendo apenas fragmentado com maior facilidade. Portanto, do ponto de vista da biodegradação, eles têm pouco a oferecer (para não dizer 'nada').
No entanto, em algum momento essa ideia chegou a ser popularizada dessa forma. O que fez, e ainda faz, com que representantes do setor plástico, como a Abiplast (Associação Brasileira das Indústrias de Plástico) se posicionassem com frequência contra esses produtos, classificando-os como propagandismo e os acusando de prejudicarem a reciclagem.
A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) traz essa definição sob uma outra perspectiva. Segundo a universidade, executar a redução passa diretamente pela elaboração de planos e ações que tenham como objetivo reduzir a geração de resíduos. Isso pode ocorrer tanto pela diminuição da produção de produtos com esse potencial, quanto por meio de medidas de minimização do desperdício.
Desse modo, fica evidente que a responsabilidade pela diminuição da geração de resíduos é compartilhada entre governo, fabricantes, profissionais da indústria e cidadãos, sem excluir a importância de participação de nenhuma dessas partes.
Do ponto de vista econômico, a etapa de redução é interessante porque diminui os gastos com gerenciamento e tratamento de resíduos. A formulação de processos mais enxutos, que minimizem desperdícios, também favorece o barateamento da produção, aumentando o potencial de lucro dos produtos.
A Unifesp explica que essa etapa consiste na busca de aplicações do objeto antes de seu descarte final. Por conseguinte, isso inclui atitudes como o reenvio do material ao seu processo produtivo com o objetivo de que uma recolocação seja feita, seja para o mesmo fim, seja para que atenda a alguma outra demanda do mercado.
Essa atividade também tem um outro viés econômico no Brasil. Como dito anteriormente, a reciclagem plástica no nosso país é muito pequena. Ainda assim, esse processo — só no que diz respeito a esse tipo de material — já gerou 20 mil empregos diretos em 300 indústrias de reciclagem.
A substituição do modelo de produção linear do plástico por um modelo circular eficiente é vista como um meio de maximizar a eficiência do uso de material, reduzir resíduos, e garantir sucesso econômico para o negócio. Inclusive, muitos acreditam que é a interação entre indústrias de diversos ramos, numa possível cadeia de aproveitamento de resíduos de um tipo de produção em outra, dentro de processos circularizados, que aumentará a viabilidade econômica de alternativas “caras”, como os bioplásticos. Um paralelismo entre as duas propostas é apresentado nas figuras abaixo:
Referências:
UFPR - lmpressora 3D UFPR
UOL - Coronavírus: medo de contaminação trás de volta os plásticos
BBC - Sobre a pesquisa: Um Mundo Descartável — Os Desafios das Embalagens e do Lixo
G1 - Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo
Complast - Plásticos
Ecycle - Tipos de plástico
CNPEM - Como adaptar a indústria para a produção de bioplásticos?
Scielo - O futuro dos plásticos
Portal São Francisco - Plásticos Biodegradáveis
Abiplast - Biodegradáveis só na propaganda
Ministério do Meio Ambiente - Princípio dos 3 r’s
Unifesp - Princípio dos 3 r’s
Eco.nomia - O que é a economia circular?
Abiplast - Economia circular: da teoria à prática
A fonte renovável e a biodegradabilidade.
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(Imagem de JamesDeMers por Pixabay) |
Bioplásticos
Estes são os plásticos de origens renováveis como o amido e a cana-de-açúcar. Apesar da origem vegetal, não necessariamente todos eles são biodegradáveis. Portanto, as conquistas mais significativas do desenvolvimento de materiais desse tipo está na substituição do combustível fóssil por outras fontes menos poluentes e mais sustentáveis. Ainda assim, mesmo que nem todos se degradem rapidamente na natureza, é bom lembrar que os plásticos biodegradáveis disponíveis derivam dessa categoria, alguns exemplos deles são o amido termoplástico e os filmes de zeínas (proteínas do milho).Em que ponto estamos:
Atualmente já há a introdução de alguns bioplásticos na indústria. Todavia, entende-se os bioplásticos como uma possível solução a longo prazo para essa temática. Dessa forma, associada às pesquisa que seguem nesta direção, é necessário que haja a formulação de outras ações de curto prazo que possam diminuir o desperdício de material, já muito alto.
Uma crítica comum à forma como os bioplásticos são divulgados para a comunidade refere-se ao fato de muitas vezes eles serem tratados como falsas promessas ecológicas. Um bioplástico ainda pode poluir os mares e demorar muitos anos para se degradar.
Aliás, a fonte renovável é um tema relevante. Há biopolímeros produzidos a partir do lixo orgânico, como o PHA, e a maioria dos resíduos da agroindústria são, no geral, oportunidades positivas de desenvolvimento de novos materiais. Contudo, a partir do momento que uma proposta de bioplástico demanda o aumento de áreas de plantio de algum vegetal, o que impulsiona o desmatamento, ou cria uma competição com a indústria de alimentos por matéria-prima, as vantagens ecológicas e humanitárias ficam comprometidas.
Entrando no campo da economia, o custo de produção de um bioplástico é, em quase todos os casos, maior do que o custo de produção do plástico convencional. Mais do que isso, o processo produtivo de biopolímeros é diferente daquele feito a partir do petróleo, o que demanda da fábrica investimentos na adaptação de equipamentos e na capacitação da mão-de-obra.
O que incentiva a incorporação lenta dos bioplásticos pelas indústrias é o preço do barril de petróleo. Afinal, no cenário futuro, a tendência é que essa matéria-prima se torne mais cara. No entanto, enquanto o processo de menor custo for o mais poluente, a implementação de alternativas mais sustentáveis dificilmente se tornará algo de grande expressão no setor.
Apesar do aumento de escala possibilitar o barateamento produtivo, o desenvolvimento de conhecimento industrial nessa direção é fundamental para que a implementação de bioplásticos seja realmente amadurecida. A especificidade de algumas produções, marcadass por processos biológicos, levantam dúvidas relacionadas à capacidade dos polímeros de origem vegetal de atenderem a alta necessidade do mercado.
Aqui, é possível usar o exemplo do polietileno verde. Enquanto o original deriva da nafta, esse deriva do etanol. Uma questão que rodeia o crescimento da produção de etanol é o limite de recursos estabelecido pelas áreas plantadas e as questões ambientais (e econômicas) relacionadas a este aumento.
Dessa forma, mesmo que sejam uma boa alternativa, os bioplásticos não podem ser assumidos indiscriminadamente como a solução absoluta (ainda que a longo prazo) para o problema. Isso não quer dizer que a implementação e introdução progressiva deles na indústria não seja positiva, mas serve de aviso de que as consequências futuras dessa introdução também precisam ser levadas em consideração.
Aditivos “pró-degradação”
No início deste século, a UNICAMP patenteou um plástico fotodegradável. A adição de um polímero orgânico ao polietileno mostrou favorecer a quebra desse material sob a exposição da luz. Na época, a categoria fotodegradável chegou a ser considerada uma solução importante, à médio prazo, para a minimização dos danos ambientais. Semelhantes a esse, surgiram depois outras modalidades de produtos degradáveis, como os plásticos oxibiodegradáveis, que afirmam se degradar na presença de oxigênio.Em que ponto estamos:
Apesar de parecer promissor, esse tipo de plástico normalmente não chega a se degradar totalmente, sendo apenas fragmentado com maior facilidade. Portanto, do ponto de vista da biodegradação, eles têm pouco a oferecer (para não dizer 'nada').
No entanto, em algum momento essa ideia chegou a ser popularizada dessa forma. O que fez, e ainda faz, com que representantes do setor plástico, como a Abiplast (Associação Brasileira das Indústrias de Plástico) se posicionassem com frequência contra esses produtos, classificando-os como propagandismo e os acusando de prejudicarem a reciclagem.
As indústrias de plástico, diga-se de passagem, são promotoras importantes do valor da reciclagem. Isso acontece porque essa atividade pode ser adaptada como um novo negócio gerador de lucro para o setor, ao passo que contribui para a pauta ambiental, sendo exemplo comum do chamado desenvolvimento sustentável (que difunde o equilíbrio entre a economia, o meio ambiente e a sociedade). Logo, a preocupação com a conscientização da comunidade sobre o assunto tem ganhado maior espaço dentre esses agentes, e sendo progressivamente mais defendida.
O apoio da indústria faz muita diferença quando pensamos nas possibilidades de mudanças reais e efetivas. Por isso, acho que é uma boa hora da gente começar a falar mais desses conceitos que estão sendo abraçados por essas empresas.
Os 3 r’s e a Economia Circular
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(Imagem de Shirley Hirst por Pixabay) |
O princípio dos 3 r’s associado à economia circular é possivelmente uma das ‘soluções’ mais populares no meio industrial. As aplicações desse tópico podem render, sim, muita conversa. Mas a princípio, vamos nos ater às bases de cada um desses termos.
Reduzir
Segundo o MMA (Ministério do Meio Ambiente), reduzir significa consumir menos e dar preferência a produtos que tenham maior durabilidade ou recicláveis. Portanto, do ponto de vista de consumidor, reduzir implica numa conscientização de compra e uso, incentivando a busca por produtos que se apliquem a prazos maiores de tempo e que não tenham um caráter de descartabilidade.A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) traz essa definição sob uma outra perspectiva. Segundo a universidade, executar a redução passa diretamente pela elaboração de planos e ações que tenham como objetivo reduzir a geração de resíduos. Isso pode ocorrer tanto pela diminuição da produção de produtos com esse potencial, quanto por meio de medidas de minimização do desperdício.
Desse modo, fica evidente que a responsabilidade pela diminuição da geração de resíduos é compartilhada entre governo, fabricantes, profissionais da indústria e cidadãos, sem excluir a importância de participação de nenhuma dessas partes.
Do ponto de vista econômico, a etapa de redução é interessante porque diminui os gastos com gerenciamento e tratamento de resíduos. A formulação de processos mais enxutos, que minimizem desperdícios, também favorece o barateamento da produção, aumentando o potencial de lucro dos produtos.
Reutilização
O MMA explica a reutilização com um exemplo: em vez de descartar uma embalagem, dar a ela outra finalidade. Uma das ilustrações possíveis dessa ideia seria o caso do recipiente do sorvete de supermercado, que depois é usado para armazenar feijão no congelador.A Unifesp explica que essa etapa consiste na busca de aplicações do objeto antes de seu descarte final. Por conseguinte, isso inclui atitudes como o reenvio do material ao seu processo produtivo com o objetivo de que uma recolocação seja feita, seja para o mesmo fim, seja para que atenda a alguma outra demanda do mercado.
Reciclagem
A reciclagem é o processo de transformação de resíduos com o objetivo de obter um material de valor para aplicação em um novo ciclo produtivo. Como o MMA salienta, uma questão muito importante para a facilitação da reciclagem é a separação adequada dos resíduos em seus locais de origem (casa, escritório, fábrica, etc).Essa atividade também tem um outro viés econômico no Brasil. Como dito anteriormente, a reciclagem plástica no nosso país é muito pequena. Ainda assim, esse processo — só no que diz respeito a esse tipo de material — já gerou 20 mil empregos diretos em 300 indústrias de reciclagem.
Economia Circular
Absorvendo os conceitos de redução, reutilização, reciclagem e somando à recuperação, o modelo de economia circular tem como estratégia a otimização do uso de energia e de materiais. Nesse conceito, as ações extrapolam a gestão de resíduos e se dispõem a modificar modelos de negócio, processos produtivos, insumos, produtos finais, relações comerciais entre as indústrias e seus clientes, dentre vários outros aspectos.A substituição do modelo de produção linear do plástico por um modelo circular eficiente é vista como um meio de maximizar a eficiência do uso de material, reduzir resíduos, e garantir sucesso econômico para o negócio. Inclusive, muitos acreditam que é a interação entre indústrias de diversos ramos, numa possível cadeia de aproveitamento de resíduos de um tipo de produção em outra, dentro de processos circularizados, que aumentará a viabilidade econômica de alternativas “caras”, como os bioplásticos. Um paralelismo entre as duas propostas é apresentado nas figuras abaixo:
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(Figura 1: Modelo linear de produção. Fonte Abiplast). |
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(Figura 2: Modelo circular de produção. Fonte Abiplast) |
Em que ponto estamos:
Os 3 r’s, associados à economia circular, são, como falado, talvez as ideias com foco sustentável mais difundidas na indústria. Nomes importantes na defesa dessas medidas são a Abiplast e a Abiquim (Associação Brasileira das Indústrias Químicas) que divulgam e produzem materiais de apoio para a implementação prática desses conceitos.
Entretanto, esta não é a solução definitiva para o problema. Uma vez que o estímulo ao consumo e o desenvolvimento rápido de novas tecnologias (as quais, algumas vezes, tornam outras obsoletas) ainda são características da nossa organização social prejudiciais ao ambiente e fomentadora da produção de lixo.
Assim, o fomento de políticas públicas que visem conscientizar e facilitar o descarte responsável nas casas e ambientes públicos nacionais são, sim, relevantes para o combate dessa ameaça ambiental. Além disso, programas de incentivo governamentais ou empresariais podem incluir mais a pauta sustentável em propostas de financiamento para a promoção de inovação dentro das empresas. Contudo, como sempre é bom ressaltar, nenhuma campanha deveria ser colocada como o fim definitivo deste problema, para isso, muitos passos ainda devem ser dados.
O diálogo entre as propostas que possuímos, suas adaptações para o meio industrial e para a economia são um campo de alta relevância. Todavia, ele precisa ser explorado sob um olhar cauteloso sobre as limitações dos planos de ação, avaliação essa que a formação técnica e cidadã do engenheiro químico permite fazer. No fim das contas, nós todos somos relevantes nisso, e precisamos começar a pensar mais sobre isso.
Os 3 r’s, associados à economia circular, são, como falado, talvez as ideias com foco sustentável mais difundidas na indústria. Nomes importantes na defesa dessas medidas são a Abiplast e a Abiquim (Associação Brasileira das Indústrias Químicas) que divulgam e produzem materiais de apoio para a implementação prática desses conceitos.
Entretanto, esta não é a solução definitiva para o problema. Uma vez que o estímulo ao consumo e o desenvolvimento rápido de novas tecnologias (as quais, algumas vezes, tornam outras obsoletas) ainda são características da nossa organização social prejudiciais ao ambiente e fomentadora da produção de lixo.
Assim, o fomento de políticas públicas que visem conscientizar e facilitar o descarte responsável nas casas e ambientes públicos nacionais são, sim, relevantes para o combate dessa ameaça ambiental. Além disso, programas de incentivo governamentais ou empresariais podem incluir mais a pauta sustentável em propostas de financiamento para a promoção de inovação dentro das empresas. Contudo, como sempre é bom ressaltar, nenhuma campanha deveria ser colocada como o fim definitivo deste problema, para isso, muitos passos ainda devem ser dados.
Considerações finais
Os plásticos são materiais muito importantes para como a nossa sociedade se configura atualmente. De modo que os benefícios obtidos pelo uso deles não podem ser esquecidos diante do debate sobre seus malefícios. Em concomitância com isso, as soluções e ideias disseminadas sobre esse assunto precisam ser avaliadas de acordo com seus contextos, sem que sejam ignorados seus prós e contras e possibilidades disponíveis agora.O diálogo entre as propostas que possuímos, suas adaptações para o meio industrial e para a economia são um campo de alta relevância. Todavia, ele precisa ser explorado sob um olhar cauteloso sobre as limitações dos planos de ação, avaliação essa que a formação técnica e cidadã do engenheiro químico permite fazer. No fim das contas, nós todos somos relevantes nisso, e precisamos começar a pensar mais sobre isso.
Agradecimentos:
A Vinícius Vale de Freitas, que não somente encorajou a produção desse conteúdo como contribuiu ativamente com o compartilhamento de sua experiência trabalhando com plásticos.
Confira também:
Referências:
UFPR - lmpressora 3D UFPR
UOL - Coronavírus: medo de contaminação trás de volta os plásticos
BBC - Sobre a pesquisa: Um Mundo Descartável — Os Desafios das Embalagens e do Lixo
G1 - Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo
Complast - Plásticos
Ecycle - Tipos de plástico
CNPEM - Como adaptar a indústria para a produção de bioplásticos?
Scielo - O futuro dos plásticos
Portal São Francisco - Plásticos Biodegradáveis
Abiplast - Biodegradáveis só na propaganda
Ministério do Meio Ambiente - Princípio dos 3 r’s
Unifesp - Princípio dos 3 r’s
Eco.nomia - O que é a economia circular?
Abiplast - Economia circular: da teoria à prática
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