O termo ‘descarbonização’ tem se infiltrado mais e mais em jornais, anúncios publicitários e meios corporativos. Comumente apresentada junto com a ideia de desenvolvimento sustentável, esta palavra tem sido pauta de encontros de relevância global, como a COP-27.
Mas… de forma prática, o que seria essa descarbonização e quais os desafios que ela encontra no nosso país? Quais avanços já têm sido feitos e quais são as perspectivas que podemos ter para a engenharia química neste cenário? É o que pretendemos discutir neste texto.
Contudo, a exploração desse recurso resultou em danos enormes ao meio ambiente, dentre os quais, encontram-se as altas emissões de dióxido de carbono na atmosfera. Neste contexto, e somente neste contexto, descarbonizar pode ser entendido como reduzir as emissões de gases de efeito estufa carbônicos, especialmente o CO2.
Na prática, a descarbonização refere-se ao processo de reduzir a zero a participação de combustíveis fósseis na matriz energética. Essa redução ocorre a partir da substituição destes combustíveis por alternativas menos poluentes.
Mas para que isso seja possível, é necessário encontrar meios de garantir a segurança energética da população mundial. Ou seja, esta transição deve respeitar o direito humano à energia.
Logo, mais que uma questão tecnológica, a descarbonização é também uma preocupação sociológica, vista a diversidade das comunidades humanas no planeta. Por essa razão, para que este processo seja bem sucedido, as realidades locais precisam ser entendidas, antes que respostas globais sejam alcançadas.
Essa abundância torna a governança ambiental no país um tópico de interesse internacional. Afinal, situados aqui estão:
a) A principal floresta e também a maior biodiversidade do planeta;
b) A maior reserva de terras voltadas para a produção agrícola do mundo e agronegócio competitivo, o que torna o país um dos agentes centrais para a garantia da segurança alimentar das populações;
c) Cerca de 13,7% da água doce da Terra, que precisam ser bem geridos, o que atrai atenção para a sua PNRH;
d) A produção de etanol mais eficiente do mundo;
e) Um grande potencial hidrelétrico, que se manifesta em sua matriz energética;
f) Diversas oportunidades de implementação e aproveitamento em larga escala das energias eólica e solar.

Observando a figura, é possível perceber que, historicamente, os nossos dois principais desafios de descarbonização são o desmatamento e a energia. Contudo, como a imagem também demonstra, o comportamento destes dois fatores é bem diferente. Vamos falar um pouco mais sobre cada um deles.
Em todo o período, a energia alcançou o seu valor máximo de emissões em 2014, ano de início da crise hídrica na região Sudeste do país. Na época, devido à queda no nível dos reservatórios, a produção de energia elétrica nas termelétricas nacionais foi recorde.
Por isso, o aproveitamento daquele potencial eólico e solar do qual falamos agora há pouco é tão importante. O aumento da participação dessas usinas na produção de energia elétrica fortalece a nossa matriz e aumenta a segurança energética nacional.
Uma vez que as mudanças climáticas podem afetar a disponibilidade dos nossos recursos, como já tem ocorrido com a água, a diversificação é uma iniciativa chave para a nação.
Além disso, é de extrema importância que a cadeia de produção de energia elétrica seja estável o suficiente para comportar demandas do futuro, advindas da implementação de veículos híbridos, por exemplo.
Os veículos híbridos são veículos abastecidos por energia elétrica/combustível. No mercado, e nas ruas de nossas cidades já existem carros híbridos que funcionam também com gasolina.
Todavia, dada a maturidade da indústria de etanol no Brasil, os carros híbridos a álcool são uma tecnologia estratégica para a descarbonização. Evidentemente, o leque dos híbridos não deve se limitar aos carros particulares. Podendo, também, se expandir a veículos ‘mais pesados’, como os caminhões.
Vale notar que o mundo vive um momento de transição, o que exige mudanças nas infraestruturas e conscientização dos indivíduos. Geralmente são diante dessas peculiaridades que as mudanças passam a divergir de um local para outro.
Em 2022, a Europa decidiu optar pela eletrificação total de seus carros. Contudo, esta alternativa tem encontrado dificuldades devido à infraestrutura desigualmente distribuída pelo continente.
Na América do Sul, o cenário é muito diferente. O enorme potencial para biocombustíveis do Brasil (potencial este que não se vê em muitos países europeus), permite que outras soluções sejam encontradas.
É bom lembrar que tanto a eletrificação, quanto os biocombustíveis para motores à combustão possuem suas vantagens e desvantagens ambientais e sociais. Portanto, como dizemos antes, as análises dos projetos de descarbonização possíveis devem levar em consideração as realidades locais.
Se há anos atrás todo o setor pressionava as fronteiras agrícolas, hoje, há diferentes tipos de agentes na agricultura brasileira. Atividades produtivas com alta incorporação tecnológica têm permitido aumentos significativos na produção sem que isso reflita, necessariamente, no aumento da área plantada.
Por outro lado, a agropecuária não deixa de estar envolvida com redes organizadas de crime ambiental que objetivam a destruição da floresta Amazônica. Estes grupos são diferentes daqueles que o país tinha no passado, o que torna a implementação de medidas efetivas de combate uma tarefa difícil até mesmo para governos comprometidos com essa temática.
O que não quer dizer que resultados neste sentido não devam ser cobrados. A proteção da Amazônia é — antes de tudo — uma necessidade humana e — depois — uma oportunidade de atrair novos investimentos. Até porque empreendimentos sustentáveis se tornam cada vez mais interessantes para o mercado.
Também são nossas indústrias que transformam derivados deste combustível em outros produtos de valor. Assim como também são elas que têm aderido à química verde e à economia circular.
Além disso, os profissionais de engenharia química também podem liderar o movimento mais que necessário de desenvolvimento de novos produtos. Enquanto o etanol de segunda geração já avança na indústria brasileira, o interesse em obter metodologias que permitam a produção de gás hidrogênio de forma segura atrai cada vez mais pesquisadores.
Estes são combustíveis do futuro, que certamente farão parte da governança energética global que deve ter que saber gerenciar também a concorrência dos vários setores pelos recursos terrestres. No futuro, talvez, pode ser que cada um desses avanços, inclusive, se conectem. Afinal, é possível produzir H2 a partir do etanol por meio de uma reação de reforma catalítica a vapor.
O uso do álcool de segunda geração como intermediário seria interessante pois permitiria obter gás hidrogênio a partir de uma matéria-prima menos tóxica (quando comparado com o metanol), menos poluente (quando comparado com o CH4) e que não competiria com a indústria de alimentos.
Todavia, para que projetos como esse se tornem uma realidade, são necessários engenheiros químicos. São necessários investimentos. E são necessárias mobilizações. Pois certamente precisamos de descarbonização.
Mas… de forma prática, o que seria essa descarbonização e quais os desafios que ela encontra no nosso país? Quais avanços já têm sido feitos e quais são as perspectivas que podemos ter para a engenharia química neste cenário? É o que pretendemos discutir neste texto.
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(Imagem de Gerd Altmann por Pixabay.) |
Descarbonização: do que se trata?
A vida humana foi transformada intensamente pelos avanços tecnológicos feitos desde a Segunda Revolução Industrial. Muitas dessas transformações, que permitiram condições de vida melhores para as pessoas, só foram possíveis devido à energia fóssil.Contudo, a exploração desse recurso resultou em danos enormes ao meio ambiente, dentre os quais, encontram-se as altas emissões de dióxido de carbono na atmosfera. Neste contexto, e somente neste contexto, descarbonizar pode ser entendido como reduzir as emissões de gases de efeito estufa carbônicos, especialmente o CO2.
Na prática, a descarbonização refere-se ao processo de reduzir a zero a participação de combustíveis fósseis na matriz energética. Essa redução ocorre a partir da substituição destes combustíveis por alternativas menos poluentes.
Mas para que isso seja possível, é necessário encontrar meios de garantir a segurança energética da população mundial. Ou seja, esta transição deve respeitar o direito humano à energia.
Logo, mais que uma questão tecnológica, a descarbonização é também uma preocupação sociológica, vista a diversidade das comunidades humanas no planeta. Por essa razão, para que este processo seja bem sucedido, as realidades locais precisam ser entendidas, antes que respostas globais sejam alcançadas.
Nossa realidade: nossa riqueza
Falando em realidades locais, a posição do Brasil nos debates relacionados ao meio ambiente é muito diferente da posição de vários outros países. O motivo para isso é a abundância de recursos naturais dentro do nosso território.Essa abundância torna a governança ambiental no país um tópico de interesse internacional. Afinal, situados aqui estão:
a) A principal floresta e também a maior biodiversidade do planeta;
b) A maior reserva de terras voltadas para a produção agrícola do mundo e agronegócio competitivo, o que torna o país um dos agentes centrais para a garantia da segurança alimentar das populações;
c) Cerca de 13,7% da água doce da Terra, que precisam ser bem geridos, o que atrai atenção para a sua PNRH;
d) A produção de etanol mais eficiente do mundo;
e) Um grande potencial hidrelétrico, que se manifesta em sua matriz energética;
f) Diversas oportunidades de implementação e aproveitamento em larga escala das energias eólica e solar.
Nossa realidade: nossos desafios
O gráfico abaixo foi retirado do portal SEEG, que disponibiliza diversas informações sobre as emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Nele, as estimativas feitas (em toneladas) são para o CO2 entre 1990 e 2021.Observando a figura, é possível perceber que, historicamente, os nossos dois principais desafios de descarbonização são o desmatamento e a energia. Contudo, como a imagem também demonstra, o comportamento destes dois fatores é bem diferente. Vamos falar um pouco mais sobre cada um deles.
Energia
A alta participação de fontes renováveis na cadeia de produção de eletricidade no Brasil tende a tornar o perfil de emissões do setor energético mais estável. Isso acontece porque os combustíveis fósseis são limitados às demais atividades que, tradicionalmente, fazem o seu uso, como é o caso dos transportes.Em todo o período, a energia alcançou o seu valor máximo de emissões em 2014, ano de início da crise hídrica na região Sudeste do país. Na época, devido à queda no nível dos reservatórios, a produção de energia elétrica nas termelétricas nacionais foi recorde.
Por isso, o aproveitamento daquele potencial eólico e solar do qual falamos agora há pouco é tão importante. O aumento da participação dessas usinas na produção de energia elétrica fortalece a nossa matriz e aumenta a segurança energética nacional.
Uma vez que as mudanças climáticas podem afetar a disponibilidade dos nossos recursos, como já tem ocorrido com a água, a diversificação é uma iniciativa chave para a nação.
Além disso, é de extrema importância que a cadeia de produção de energia elétrica seja estável o suficiente para comportar demandas do futuro, advindas da implementação de veículos híbridos, por exemplo.
Os veículos híbridos são veículos abastecidos por energia elétrica/combustível. No mercado, e nas ruas de nossas cidades já existem carros híbridos que funcionam também com gasolina.
Todavia, dada a maturidade da indústria de etanol no Brasil, os carros híbridos a álcool são uma tecnologia estratégica para a descarbonização. Evidentemente, o leque dos híbridos não deve se limitar aos carros particulares. Podendo, também, se expandir a veículos ‘mais pesados’, como os caminhões.
Vale notar que o mundo vive um momento de transição, o que exige mudanças nas infraestruturas e conscientização dos indivíduos. Geralmente são diante dessas peculiaridades que as mudanças passam a divergir de um local para outro.
Em 2022, a Europa decidiu optar pela eletrificação total de seus carros. Contudo, esta alternativa tem encontrado dificuldades devido à infraestrutura desigualmente distribuída pelo continente.
Na América do Sul, o cenário é muito diferente. O enorme potencial para biocombustíveis do Brasil (potencial este que não se vê em muitos países europeus), permite que outras soluções sejam encontradas.
É bom lembrar que tanto a eletrificação, quanto os biocombustíveis para motores à combustão possuem suas vantagens e desvantagens ambientais e sociais. Portanto, como dizemos antes, as análises dos projetos de descarbonização possíveis devem levar em consideração as realidades locais.
Desmatamento
O combate ao desmatamento é uma luta histórica que, de tempos em tempos, adquire novas facetas no Brasil. O agronegócio, especialmente o voltado para exportações, já experimentou sanções internacionais que motivaram mudanças.Se há anos atrás todo o setor pressionava as fronteiras agrícolas, hoje, há diferentes tipos de agentes na agricultura brasileira. Atividades produtivas com alta incorporação tecnológica têm permitido aumentos significativos na produção sem que isso reflita, necessariamente, no aumento da área plantada.
Por outro lado, a agropecuária não deixa de estar envolvida com redes organizadas de crime ambiental que objetivam a destruição da floresta Amazônica. Estes grupos são diferentes daqueles que o país tinha no passado, o que torna a implementação de medidas efetivas de combate uma tarefa difícil até mesmo para governos comprometidos com essa temática.
O que não quer dizer que resultados neste sentido não devam ser cobrados. A proteção da Amazônia é — antes de tudo — uma necessidade humana e — depois — uma oportunidade de atrair novos investimentos. Até porque empreendimentos sustentáveis se tornam cada vez mais interessantes para o mercado.
O engenheiro químico e a descarbonização
A engenharia química é fundamental para a descarbonização. Afinal, são nossas indústrias que estão refinando os combustíveis fósseis que serão utilizados por diversos outros setores — e inclusive, pelas indústrias que os produziram.Também são nossas indústrias que transformam derivados deste combustível em outros produtos de valor. Assim como também são elas que têm aderido à química verde e à economia circular.
Além disso, os profissionais de engenharia química também podem liderar o movimento mais que necessário de desenvolvimento de novos produtos. Enquanto o etanol de segunda geração já avança na indústria brasileira, o interesse em obter metodologias que permitam a produção de gás hidrogênio de forma segura atrai cada vez mais pesquisadores.
Estes são combustíveis do futuro, que certamente farão parte da governança energética global que deve ter que saber gerenciar também a concorrência dos vários setores pelos recursos terrestres. No futuro, talvez, pode ser que cada um desses avanços, inclusive, se conectem. Afinal, é possível produzir H2 a partir do etanol por meio de uma reação de reforma catalítica a vapor.
O uso do álcool de segunda geração como intermediário seria interessante pois permitiria obter gás hidrogênio a partir de uma matéria-prima menos tóxica (quando comparado com o metanol), menos poluente (quando comparado com o CH4) e que não competiria com a indústria de alimentos.
Todavia, para que projetos como esse se tornem uma realidade, são necessários engenheiros químicos. São necessários investimentos. E são necessárias mobilizações. Pois certamente precisamos de descarbonização.
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