A indústria, as águas e o Brasil

No último artigo do blog, falamos da política de recursos hídricos brasileira. Nela, é estabelecido que o consumo humano é prioritário para a gestão das águas no Brasil. A necessidade de determinar prioridades está relacionada aos usos múltiplos desses recursos, muito importantes para diversos processos que fazem parte da nossa sociedade.

No texto de hoje, vamos desenvolver mais sobre esse tema e sobre a participação da indústria no 
consumo e preservação das águas. Como você vai ver, esse desafio tem tudo a ver com a engenharia!

(Imagem de Simon Berger por Pixabay)


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Os usos da água

O uso hídrico pode ser separado entre usos consuntivos e não consuntivos. Os usos consuntivos são aqueles que consomem água. Enquanto os usos não consuntivos, apesar de não consumirem diretamente, dependem da disponibilidade de água em quantidade e/ou qualidade adequada.

As principais atividades consuntivas no Brasil são irrigação, abastecimento humano, abastecimento de rebanhos, indústria, termelétricas e mineração, conforme mostrado na figura a seguir.

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A água e a energia

As hidrelétricas são responsáveis por, aproximadamente, 62% da energia elétrica produzida no Brasil. Como uma forma de energia renovável, essas usinas não participam do consumo hídrico nacional. Contudo, a atividade é altamente dependente da disponibilidade deste recurso.

Em 2021, a falta de chuvas gerou um alerta de crise hídrica no Brasil. Esse tipo de crise é caracterizado pela diminuição da disponibilidade de água para atividades básicas na nossa sociedade, como o consumo humano, a produção de alimentos e de energia.

Nas últimas décadas, o país enfrentou outros momentos de tensão elétrica relacionados à atividade hidrelétrica e à (in)disponibilidade de águas. Para superá-los, os governos brasileiros adotaram diferentes medidas, dentre as quais o uso de meios de produção de energia elétrica mais caros, mais poluentes e, portanto, menos sustentáveis, estavam envolvidos.

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A água e os alimentos

A agricultura irrigada foi responsável por, aproximadamente, 50% das retiradas hídricas no país em 2020, enquanto o abastecimento animal contribuiu com 8% dos usos. É necessário notar que esse uso expressivo está associado à produção de alimentos. Só para ilustrar, a média global da pegada hídrica de um quilograma de carne bovina é de 15,5 mil litros de água.

À medida que a população global cresce, a demanda alimentícia também aumenta. Isso implica que a disponibilidade de água deve estar em condições de atender não somente ao uso humano direto, mas também a produção dos alimentos necessários para a nossa sobrevivência ao longo do tempo.

Com essa expectativa, caso os processos associados à alimentação não mudem, a disponibilidade de água para este e outros setores pode ser comprometida. O que, como no caso da energia elétrica, pode levar a medidas de atenuação pouco sustentáveis e prejudicar ainda mais a saúde do planeta.

A água e a indústria

O setor industrial é o terceiro que mais consome no Brasil, sendo responsável por 9% do uso total de recursos no país. É de interesse da indústria aumentar a reutilização de água nos processos por razões econômicas e ambientais. A água de reuso, por exemplo, pode reduzir os custos de produção.

Para garantir a sustentabilidade do uso dos recursos hídricos, é necessário diminuir a pressão causada pela competição sobre eles. Por isso, pesquisas relacionadas à emissão zero de efluentes são cada vez mais importantes. Dessa forma, projetos de dessalinização e aproveitamento de efluentes têm ganhado espaço nas fábricas. Aqui estão alguns exemplos de marcas que já adotaram medidas nesta direção.

A água e o futuro

Fundamental para a vida na Terra, a água viabiliza diversos processos desenvolvidos pela humanidade. Para garantir a sobrevivência das atuais e próximas gerações, são necessários processos que consumam menos esse recurso sejam desenvolvidos.

Esses novos processos devem ser trabalhados considerando o ser humano. Portanto, a produção dos recursos básicos relacionados à qualidade de vida da população precisa ser socialmente acessível e barata, ao passo que também é ambientalmente amigável.

Atualmente, as desigualdades já refletem na utilização dos recursos naturais do planeta. Enquanto alguns grupos de pessoas contam com abundância de água, alimentos e energia, outros não têm o devido acesso a essas necessidades básicas. Assim, o desenvolvimento de tecnologias “limpas” menos custosas é uma urgência para o combate às injustiças sociais.


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