Racionalizando o fluxograma: quando aplicar essa ferramenta?

Fluxogramas não são uma novidade para profissionais de engenharia. Estamos acostumados a trabalhar com essa ferramenta desde os primeiros semestres da graduação.

Enquanto estudantes, utilizamos essa representação gráfica com frequência em nossos trabalhos acadêmicos. Ela também nos ajuda a solucionar vários problemas de balanço de massa e energia.

Contudo, pouco nos aprofundamos sobre as possibilidades da aplicação de fluxogramas para a resolução de problemas no meio corporativo. Neste texto, algumas destas situações são exploradas com o objetivo de facilitar esse entendimento.

Ilustração de fluxograma colorido. Uma etapa (vermelho) que se divide em duas (amarelo e verde).
(Imagem de Clker-Free-Vector-Images por Pixabay)


Quando utilizar um fluxograma?

Uma das aplicações mais comuns do fluxograma na engenharia química é a representação de processos. Assim, é possível visualizar não somente as etapas envolvidas em alguma transformação, como também os transportes de massa e energia ao longo de toda a cadeia produtiva.

No entanto, o fluxograma também permite a visualização do fluxo de trabalho e do fluxo de informação dentro das fábricas e companhias. Por isso, saber quando e como utilizá-lo da melhor maneira é fundamental.

Você pode querer usar um fluxograma nas seguintes situações:

1 - Quando deseja-se padronizar processos.

Considere que você atua como engenheiro de vendas, ou que entrou para o time comercial da empresa júnior do seu curso e que deve trabalhar no processo de prospecção. Provavelmente, existe um fluxograma ilustrando as etapas dessa prospecção e os possíveis caminhos que a comunicação com externos deve percorrer.

Essa representação da prospecção permite que o processo possua um procedimento padronizado e compartilhado por todos do time que exercem essa função. Como é visual, ela facilita o entendimento e permite a consulta rápida dos componentes da equipe de uma forma que, dificilmente, a descrição processual em texto permitiria.

O fluxograma, neste caso, também é uma ferramenta importante de gestão de informação. Pois permite que o padrão de processo da empresa seja facilmente compreendido por novos colaboradores.

Numa indústria, é desejável que os padrões de processo estabelecidos sejam facilmente mantidos, mesmo que haja rotatividade de funções ou contratações. Uma maneira de tratar essa questão é a partir do uso de diagramas de fluxo para a representação de processos padrão.

2 - Quando deseja-se entender fluxos de massa, energia ou informação no processo.

Um fluxograma com certeza já te ajudou a resolver um problema de balanço de massa ou energia. Caso o processo na indústria esteja apresentando algum comportamento indesejado, o fluxograma permite a análise crítica das etapas para a identificação e tratamento da causa do problema.

Neste contexto, a experiência e o senso crítico são muito importantes para a avaliação rápida de desconexões. As desconexões são desencontros no processo, ocorrem quando há falta de um recurso fundamental para que uma determinada etapa ocorra.

Na prática, uma desconexão pode ser tanto balanços materiais ou energéticos que não fecham, quanto informações incompletas. Por exemplo, considere o operador responsável por ajustar os parâmetros da moagem do cru, na indústria de cimento. Qual é a base desse ajuste?

Pode ser que esse operador não possua como referência valores obtidos de um estudo das condições ótimas de operação. Esta falta de referência é uma desconexão que pode resultar em ineficiências no processo.

Diferente do que se pode acreditar na faculdade, muitas vezes as transformações na indústria não contam com o suporte de estudos que permitam a otimização de suas etapas. Isso pode ocorrer por diversos fatores, que incluem também a complexidade das operações em larga escala.

À medida que a indústria 4.0 avança e a coleta de dados industriais se torna mais comum, é possível tratar desconexões como essa a partir do uso de ferramentas avançadas. A estatística, a programação e a ciência e análise de dados são alguns dos recursos que viabilizam esses estudos.

Ademais, você, provavelmente, deve estar mais acostumado a ver fluxogramas de macroprocessos, como aquele da produção de etanol que apresentamos em outra publicação. Todavia, muitos problemas de qualidade estão nos micro processos, que não estão expressos nestas representações.

Isto não significa que os fluxogramas não possam ser utilizados para esses casos. Pelo contrário, essa situação só ajuda a tornar ainda mais evidente que os diagramas de fluxo podem e devem ser entendidos como uma ferramenta de análise a ser construída durante o estudo de etapas problemáticas.

Esta ideia será mais desenvolvida no próximo tópico, que é ilustrado justamente pela aplicação de um fluxograma a um micro processo.

3 - Quando deseja-se identificar atividades que não geram valor

Geralmente, processos eficientes também são simples. Logo, um fluxograma torna visual o grau de complexidade do fluxo de trabalho. Essa visualização facilita a identificação de etapas que não geram valor para o cliente ou para a sua empresa.

Por isso, ao fazer a representação gráfica do processo, também é necessário fazer um trabalho analítico e até mesmo imaginativo de procurar identificar simplificações que poderiam aumentar a sua eficiência.

A mesma reflexão pode ser feita para a análise de um micro processo. Vamos voltar ao exemplo da prospecção, mas suponha agora que você é gerente do time comercial e percebeu que o rendimento do seu time caiu muito.

O contato com os leads está mais demorado e um percentual inferior de pessoas tem avançado para as outras etapas de vendas. Além disso, a equipe está exausta e desmotivada.

Enquanto um fluxograma do macroprocesso pode não te ajudar a lidar com essa questão. Uma conversa com os membros do seu time para mapear e representar graficamente os micro processos que cada um deles realiza pode ser muito útil para identificar as causas desses problemas.

A partir do conhecimento das etapas que compõem a rotina dos responsáveis pela prospecção é possível perceber burocracias desnecessárias, retrabalhos, necessidades de suporte tecnológico ou de recursos humanos, por exemplo, que jamais seriam detectados de outra maneira.

4 - Quando deseja-se alinhar ou treinar pessoas

Como já falamos anteriormente, o fluxograma é uma ferramenta que permite retratar um processo de maneira visual e simplificada. Isso facilita muito o aprendizado e o alinhamento de informações, especialmente em equipes relativamente grandes.

Essa característica torna o fluxograma uma ferramenta muito compatível com o Lean. Nesta filosofia, a melhoria contínua dos processos é feita por todos os envolvidos na sua realização. Portanto, o uso de recursos visuais para o alinhamento e inclusão de toda a equipe é muito importante.

Para te aprimorar na arte do fluxograma

Vários conhecimentos complementares podem te ajudar a tirar o melhor dos fluxogramas. Alguns deles são apresentados a seguir.

BPMN

Nas corporações, pode ser um diferencial a elaboração de fluxogramas BPMN (Business Process Modelling Notation). A BPMN é uma metodologia padronizada para a elaboração de diagramas, possibilitando a produção de representações que facilitam o entendimento dos stakeholders (partes interessadas) em todos os níveis.

Você pode conhecer mais sobre a notação e símbolos de diagramas da BPMN neste link. Caso tenha o interesse em começar a elaborar fluxogramas deste tipo, há vários recursos gratuitos que possibilitam essa elaboração como o Lucidchart, Diagramas.net e o Bizagi. Não deixe de testar cada um deles!

Lean Manufacturing

Todo fluxograma é criado para algum propósito. Em outras palavras, se você elaborar um diagrama de fluxo, deve objetivar utilizá-lo de alguma forma.

Para analisar um processo, são necessários recursos que ajudem a treinar o olhar crítico de toda a equipe. Um desses recursos é o Lean Manufacturing, uma filosofia que visa a minimização de erros e ineficiências na indústria.

A partir do Lean é possível implementar uma cultura de melhoria contínua nas organizações. Também é possível identificar etapas que não geram valor com muito mais facilidade.

As ferramentas da gestão da qualidade

Os fluxogramas são apenas uma das 7 ferramentas da gestão da qualidade. As demais são: Diagrama de Espinha-de-Peixe (ou Ishikawa), Diagrama de Pareto, Folha de Verificação, Diagrama de Dispersão, Histograma e Cartas de Controle.

Este conjunto de recursos estatísticos viabilizam a implementação de mudanças que resultam em melhorias efetivas em processos, produtos e serviços. Por isso, devem ser de conhecimento de todos os envolvidos com a empresa, sendo parte de treinamentos básicos das organizações.
 
A partir da integração de conceitos de gestão, qualidade, química verde e controle, é possível tornar a atividade industrial muito mais benéfica ao meio ambiente e à sociedade. Além disso, essas práticas também fortalecem economicamente o desenvolvimento industrial, tornando-o muito mais sustentável. Portanto, precisamos estar preparados para participar desta transformação.

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